domingo, 12 de agosto de 2012

PAI

Dia dos Pais !!!

E meus dois pequenos Ícaro e Lucca (pequenos por enquanto :o), tão longe de mim nesse momento, impedindo-me abraça-los, beijos e todos os afagos que eu tanto gosto de dar e receber deles... :o((((((((((( !!!!

O que é ser pai, farei aqui minha tentativa de descrever. Já o fizeram com zilhões de palavras e textos, em toda a história. Algumas que uma rápida pesquisa na web me apresenta :

"Ser pai é ser semente da vida, de exemplo, de esperança e de sonhos."

""Pai" o nome já diz tudo!
P: articipação.
A: mor.
I: nigualavel."

E mais trocentos textos, poesias, todas louvando aquele que PODE ter sido para nós exemplo, fonte, teto e nosso melhor parceiro.

Digo PODE, porque infelizmente, nem sempre é assim.

Às vezes, um homem é pai muito cedo, e pela própria inexperiencia, não aprendeu a cumprir esse papel nem para si mesmo, quanto mais para o filho.

Às vezes, um homem é pai sem querer, e esse sem querer é retribuído para quem menos tem culpa e que não teve escolha, simplesmente veio.

Há uma frase que resume isso : "Aprendemos a ser filhos, quando já somos pais. Aprendemos a ser pais, quando já somos avôs. Por isso um avô reune as qualidades de um pai, e os defeitos de quem não soube se-lo, na hora necessária."

Mas eu fui feliz e abençoado por ter tido um PAI com todas as letras em maíusculas. Fui extremamente premiado pela vida, por ter tido um pai maravilhoso, educado, inteligente e exemplo de como um homem pode ser bom para um filho.

Sempre vou me lembrar de sua barba extremamente grossa e quase sempre mal feita, pois é quase impossível a um homem manter uma barba diariamente bem feita. E como ele adora nos beijar, muitas vezes esse beijo era significado de dor, pela barba que espetava como mil agulhas ... Como eu gostaria hoje de ser espetado de novo por essas agulhas ! Como eu gostaria hoje de mostrar meu (ex-pequeno) Ícaro, e meu ainda pequenino Lucca para ele ! Como eu gostaria de ouvir sua voz mansa, suas piadas e ensinamentos, de ter seu abraço...

Meu pai era representante comercial, vendia livros médicos. Há 40 anos atrás, não haviam outras formas de venda, a não ser aquela em que se levava o livro até o médico, de consultório em consultório, ou nos hospitais. E assim ele levou-me desde pequeno, para acompanhá-lo em viagens de carro por todo o Brasil. Juntos, viajavamos numa Vemaguete, um carro com motor de dois tempos, fumacento, lerdo, e que sempre estourava a mangueira do radiador, mas que poucas vezes no deixou na mão - afinal, sempre tinhamos outra mangueira para por ;o).
Durante essas viagens, nós tinhamos tempo. Muito tempo que hoje falta à maioria dos pais para conviver com os filhos, pressionados pelas necessidades do trabalho e da vida. Ou mesmo pela falta de interessse de ambas as partes em algumas vezes, em exercitar esse convívio.

Mas eu tive sorte e até brigava por essa sorte, contra meus quatro outros irmãos, se eles quizessem viajar com meu pai, no meu lugar. E durante toda a viagem, eu falava. E ouvia. Muito, muito e sobre tudo. Todos os assuntos, da vida, de filosofia, do mundo, nós falavamos, e eu recebi ensinamentos de um homem quase 40 anos mais velho que eu, muitas vezes amargo demais, materialista demais, mas com uma experiencia de vida incrível, por tudo que tinha vivido, com todos os erros e acertos que cometeu.

Meu pai bateu-me apenas uma vez em sua vida (em mim e no meu irmão caçula, meu saudoso e querido Marcello - acho que estavamos brigando), mas foi ele que chorou. E ao ve-lo chorar, nós choramos com ele, pois tudo que não queriamos ver era ele chorar. Durante os outros trinta e poucos anos que ainda viveu, o vi chorar outras vezes, como na morte de minha mãe, de meu irmão Marcello, e em todas, meu maior desejo era que ele não chorasse.

E durante a maior parte de minha vida, enquanto ele viveu, tive uma grande preocupação e necessidade - ajudar ao meu pai, apoia-lo nas suas necessidades, principalmente as financeiras. Muitas vezes, isso para mim era uma obrigação, e como todas as obrigações, cumprida até de certa má vontade - menos a que eu nunca deixei de ter prazer em dar a ele - beijos, abraços e carinhos.

Durante os quatro últimos anos de sua vida, tivemos que conviver com uma doença ingrata, cruel, que foi a leucemia. Quando a médica disse-nos que aos 78 anos de idade, com leucemia melóida aguda, a chance dele sobreviver era de menos de 5 %, só pensei que não iriamos passar isso para ele, que seus últimos dias seriam de força e de amor.

E foi quando meu pai me deu a maior prova de seu amor por mim.

Ele só repetia uma coisa : "eu queria tanto conhecer o Ícaro !!!", na época ainda na barriga da mãe, com apenas 4 meses de gestação. Mas eu retrucava na hora, e alguma coisa me iluminou, porque eu sempre afirmava para ele : "Não !!! O senhor irá ve-lo, o senhor irá conhece-lo e irá cantar parabéns pelo aniversário dele ! Irá ve-lo crescer !!!"

E conseguiu !!! Por quase quatro anos, Deus e a extrema vontade dele em conhecer meu filho, venceram (ou adiaram) aquela morte dada como certa. Porque seu amor extremo por mim parece ter se transferido para meu filho, como se amor fosse algo matemático e exponencial.

Ele viu meu filho nascer, cantou parabéns, e não havia um dia sequer em sua vida que ele não quizesse estar com seu neto - que diga-se de passagem, era o décimo neto, e não o primeiro. Nunca esquecerei dos finais de semanas que passamos juntos na roça, das brincadeiras que nós três faziamos...

Depois de sua morte, alguns meses depois, eu estava com meu filho, e ele desenhava num papel coisas de criança. Ele ainda não sabia escrever, nem o alfabeto. Foi quando ele disse-me : "Pai, essa é uma carta, para alguém que não está mais aqui conosco. Mas eu não sei escrever o nome dele. Voce me ensina ?"

Quando eu olhei, eram desenhos como toda criança faz. Árvores, sol, montanhas, casinhas. E no alto da página, para minha surpresa, meu filho tinha escrito DUAS letras. P e B !!! As lágrimas vieram, na mesma hora, pois meu querido pai, em toda sua vida, sempre resumiu seu nome, pelas iniciais : PB ! Pedro Barros ! E eu disse ao meu filho, que ele já tinha escrito o nome do avô, e o abracei como nunca tinha abraçado, e pensei muito em como pai deveria estar naquele momento ao nosso lado.

Ao meu PAI, todo meu amor e lembrança nesse dia. Como eu queria que voce estivesse hoje ao meu lado, assim como meus filhos.

Mas voce tinha que ir, como todos um dia teremos. Uma amiga muito sábia disse-me :

"As flores nascem. As flores brotam. As flores desabrocham. As flores murcham.
Para dar lugar, à novas flores."

Beijos, meu pai. Muitos e carinhosos beijos, do filho que o ama muito e contigo teve um lindo exemplo do que é ser PAI !

Juan Barros (JB)

sábado, 14 de abril de 2012

É lugar comum dizer que a saúde é nosso bem mais importante, o mais imprescindível, e que sem ela, não temos como resolver ou viver com qualidade os demais aspectos de nossa vida. E é verdade. E infelizmente, só temos a exata noção desse valor quando não a temos, por um motivo ou outro, por um tempo curto, médio e o pior, longo. Operei pela quarta vez o joelho esquerdo, na última quarta-feira - ops, aí um trocadilho insosso.. ;o). A primeira vez foi em 2003, e por muito tempo, não tive mais problemas. Até, eu creio, ter me esquecido não apenas da minha idade, e das limitações naturais dela, mas também de ter buscado informação e acompanhamento técnico antes de querer virar maratonista de beira de praia, correndo em 2010 cerca de 6 km, na areia fofa, tres vezes por semana. Nessa época, comecei a sentir a panturrilha, e acreditando ser um problema muscular e da minha falta de forma, insisti muito antes de acabar parando e buscando auxílio médico. A ressonancia apontou problemas no ligamento cruzado anterior, o famoso LCA. A segunda operação, em março de 2011, resolveu também os problemas dos meniscos - retirando-os por completo, e houve uma tentativa de resolver o LCA através de um procedimento de vaporização, em que se busca retensioná-lo e com isso resolver o problema de sua falta de ação nessa articulação. Se não desse resultado, o que aconteceu, eu teria que reconstituir o ligamento. Em novembro de 2011 ausentei-me do trabalho para fazer essa cirurgia. Incrivelmente, por problemas diversos do plano de saúde e da clínica responsável pela cirurgia, só consegui operar no último dia de fevereiro. E finalmente, obtive depois disso o auxilio doença do INSS, restituindo-me menos de 20 % do meu salário mensal. Quarenta dias depois, na piscina da casa do meu amigo e vizinho Mauricio, nadava tentando o início de uma fisioterapia, momento em que devo ter viajado na maionese, e esquecendo-me que apesar de já andar sem muletas, ainda me recuperava da cirurgia, dei uma pernada mais forte, e o estalo e dor que senti me deram a imediata impressão de ter feito uma bela de uma merda.. ;o((((. A nova operação foi feita para religar a parte de baixo do ligamento, que havia soltado. E novamente, as muletas terão que me acompanhar por mais um mes, sem encostar o pé no chão. Ficar com um pé no alto novamente é tudo que eu não queria. O apoio da família tem sido muito bom e fundamental, mas até esse fica desgastado depois de tanto tempo de dependencia. Bom, o jeito é tocar a vida, encarando Transcol para cima e para baixo de muletas mesmo. E aguardar mais esses dias chatos, limitados e demorados, a espera não de um milagre, mas da natureza ajudar-me e fazer a parte dela, nesse velho, cansado, desgastado e limitado corpo de um "quase" velho.. ;o)))))

terça-feira, 13 de março de 2012

Vida na roça

O problema é o excesso de barulho.

Às 6 hs da manhã, um PIU !, de algum penáceo qualquer.

Às 7 hs, mais um PIU !

No silencio e solidão de uma roça, onde somente os barulhos dos insetos, os "pius" são as poucas coisas que quebram o rangir dos invertebrados...

Há alguns dias uma vaca (poderia ser um boi, mas depois me explicaram que era uma vaca - eu só a vi de longe) insiste em mugir como se estivesse sofrendo muito. Ficamos a imaginar o que poderia ser o motivo, elocubrando talvez até algum problema maior com ela. Avistei de longe ela(e ?) na porteira da área de um dos vizinhos, mugindo incessantemente. Minha esposa insistiu que ela deveria ter algum problema, mas o que eu poderia fazer - ir lá bater um papo com ela(e ?), para tentar entender seu problema ? *rs.

Dias depois explicaram-me que era uma vaca, e que elA(;o) deveria ter sido separada de seu bezerro. Faz sentido. Eu também ficaria muito agoniado se me separassem de um dos meus "bezerrinhos"... ;o).

Desde janeiro estou morando nessa roça, com direito a pouso até para minha asa delta, dentro de casa, com todos os dias sendo ocupados por mil tarefas braçais, coisa que adoro !

O maior engarrafamento que peguei foi há poucos dias, com direito à registro até de foto pela minha esposa e postagem imediata no seu face : nós, um carro na frente...e umas 200 cabeças de gado atravessando a pista ! *rs

Na pequena cidade de Alfredo Chaves, tudo diferente da grande cidade : não há shoppings, não há nem mesmo cinema, não há trânsito, não há (quase) violencia urbana. As crianças estão nas escolas públicas, já que também não há escola particular. Há transporte gratuito da roça para a escola, e a creche para o nanico é um décimo do valor da grande cidade. Há ensino gratuito de música, de instrumentos, de teatro. Há remédio gratuito fácil, no posto de saúde, bancado pela prefeitura. Há uma feirinha local, bem pequena, mas com produtos muito bem servidos e de excelente qualidade.

Todos de certa forma se conhecem - mais a mim do que eu a eles, afinal, eu sou o "forasteiro" por aqui. Mesmo que eu voe por essas bandas desde os remotos anos de 1988.

Aqui vivo, aqui espero morrer - se depender de mim, daqui a outros cinquenta anos. E voando ainda, claro ;o).

Aqui é a roça. E nunca me senti mais em casa do que aqui, porque a grande cidade, de grande, só tem mesmo são os enormes e variados problemas.. ;o).