Comparativo técnico:
parapente / asa delta / asa rígida
Parte dois : A arte
de descolar do chão – a DECOLAGEM
Inevitavelmente,
todo voo precisa iniciar-se com uma boa, correta, segura e bem sucedida
decolagem. Principalmente no caso das
asas, pode até determinar todo o resultado do voo, no caso de rampas muito
baixas. Momento crucial para uma asa
delta. Momento também importante para um parapente, mas com certeza, muito
menos tenso.
Decolar, para ambos equipamentos, significa
conseguir velocidade suficiente para sustentação, partindo do ZERO. Na análise
simples dessa regra, já temos a grande diferença do que é esse momento, para
cada equipamento : essa velocidade mínima, para o parapente, é bem MENOR. Ou
seja, pode-se decolar com muito menos vento ( ou zero ), e até mesmo com um
ângulo de incidência em relação ao morro mais lateral.
As asas também
podem decolar com pouco vento. Com mais risco, podem também decolar com vento
lateral, desde que fraco. Mas o incremento do risco é geometricamente proporcional
quando fatores como esses se façam presentes numa decolagem. E a corrida
necessária ao piloto, carregando nos primeiros passos a asa e mais importante,
mantendo o ângulo de ataque o mais perto possível do ZERO, inversamente
proporcional à velocidade do vento – quanto menos vento, mais requer velocidade
nessa corrida.
Curiosamente,
com vento CAUDAL, em tese é mais fácil decolar com uma asa do que com um
parapente. A estrutura rígida delas não precisa ser inflada, o que é bem mais
complicado para um parapente com vento caudal. Nesse caso, bastaria correr o
suficiente para alcançar a velocidade mínima de sustentação, MAIS a velocidade
do vento – e pernas para que te quero !!!!!!!!!!
Porém, a
grande, significativa, crucial diferença de decolar com uma asa ou
parapente, é que na asa, uma decolagem é
algo quase definitivo. Ou decola-se, ou crash
! E o verbo “crachar”, pouco usado para os invertebrados, é algo que dá
calafrios em qualquer piloto de asa. Talvez por isso, alçar voo numa asa seja
um momento tão mágico quanto crítico, pois sabemos que um erro dificilmente
permitirá outra tentativa. Em meus vinte e cinco anos voando de asa (completo
em julho-2013), com cerca de mil voos, já errei seis decolagens. Um número
considerável, mas que felizmente também mostra que os erros também podem ser
perdoados para os vertebrados. Mas em apenas uma desses erros, eu consegui
tentar decolar de novo, com a mesma asa, pois eu havia apenas “barrigado” o
chão, pouco abaixo do início da decolagem, por ter me jogado nela antes dela
estar em voo. Ajudou para isso a rampa ser com “barriga invertida” (para
dentro, não para fora). Subi novamente, e como a asa que não tinha sofrido
nada, voltei a correr como um louco, e consegui decolar. O amigo que me
acompanhava, impressionado, jurou que nunca mais iria numa rampa... *rs.
Nas outras
vezes, quebrou alguma barra, tala e numa vez, a própria asa do lado direito. Em
nenhuma delas sofri sequer um arranhão, e nessa que foi a “pior”, subi
novamente depois de ter recolhido a asa, e decolei com um parapente. Em resumo,
posso não ser uma referencia de “excelência”, mas pelo menos tenho o aval da
experiência de ter passado por essas “roubadas”.
Já para um
parapente, decolar pode até ser um “brinquedo”, com pilotos empinando suas
velas como se fossem pipas, tocando suas cordas finas ( e por vezes, emboladas
APÓS a decolagem ), como se fossem violões. É inegável as vantagens, do ponto
de vista prático, entre decolar com um parapente, comparado com uma asa. Pode-se errar várias vezes, principalmente
quando sem vento, e no máximo, comer um bocado de capim ao final da rampa.
Pode-se inflar o parapente com vento lateral, e acertar apenas quando sair do
morro. Com vento mediano, descola-se da
terra como se fossem um beija-flor. E claro, também pode-se errar, e se o erro
acontecer perto do morro, não se tem na hora do impacto a proteção de toda a
estrutura da asa.
Mas para
ambos, a decolagem precisa ser bem executada, pois é um dos momentos mais
críticos. No quadro abaixo, os aspectos e diferenças da decolagem para cada
equipamento.
Parentesis : vou tentar colar o Excel abaixo, não deve dar muito certo... ;o)
DECOLAGEM | |||||
PARAPENTE | ASA DELTA | ||||
VANTAGENS | DESVANTAGENS | VANTAGENS | DESVANTAGENS | ||
GRAU DE DIFICULDADE | DECOLAGEM RELATIVAMENTE FÁCIL, COM MENOS RISCOS DO QUE NA ASA. | DECOLAR COM VENTO DE CAUDA É MAIS DIFÍCIL QUE NA ASA - A ESTRUTURA DA VELA, PARA INFLAR-SE EM PERFIL AERODINAMICO, FICA MAIS DIFICIL, ENQUANTO A ASA JÁ ESTÁ "INFLADA/RÍGIDA". | DECOLAGEM POSSÍVEL MESMO COM VENTO MUITO FORTE. | É UMA DECOLAGEM QUER REQUER PRECISÃO, OS PASSOS, A CORRIDA, E PRINCIPALMENTE O ÂNGULO DE ATAQUE DURANTE A CORRIDA, DEVEM SER EXECUTADOS COM CORREÇÃO, POIS QUALQUER ERRO RESULTA EM CRASH | |
ABORTAGEM | A AÇÃO DE INFLAR E ATÉ CORRER, PODE SER ABORTADA A QUALQUER INSTANTE. | O EXCESSO DE SIMPLICIDADE DA DECOLAGEM LEVA MUITOS PILOTOS A DECOLAREM SEM ESTAREM DEVIDAMENTE CONCENTRADOS PARA ISSO. | NÃO É PRECISO ALCANÇAR UMA GRANDE VELOCIDADE NA CORRIDA. A MAIORIA DAS ASAS TEM UMA VELOCIDADE DE ESTOL EM TORNO DE 30 KM/H. | NÃO É POSSÍVEL ABORTAR. APÓS A DECISÃO DE CORRER, SÓ RESTAR POR AS PERNAS PARA FUNCIONAR, MANTER O ÂNGULO DE ATAQUE O MAIS PRÓXIMO POSSÍVEL DO ZERO - E COOOOOOOORRRRRREEEEEE ! | |
VELOCIDADE DO VENTO | PODE-SE DECOLAR COM VENTO ZERO, E VÁRIAS TENTATIVAS PODEM SER FEITAS CASO NÃO SEJAM BEM SUCEDIDAS. | OS LIMITES DE VELOCIDADE DO VENTO SÃO MUITO MENORES QUE NUMA ASA. DECOLAR COM VENTO FORTE PODE SER MUITO PERIGOSO, COM POSSÍVEIS ARRASTÕES ATÉ PARA O ROTOR. | QUANTO MENOS VENTO PIOR. O VENTO FACILITA TUDO, E FAZ PERDOAR INCLUSIVE ERROS DE ÂNGULO DE ATAQUE OU DE VELOCIDADE. | NÃO HÁ. MESMO VENTOS FORTES DEMAIS PERMITEM DECOLAGEM. LEMBRO-ME DO MORROTE, NEM HAVIA SOLADO E FIZ MAIS DE 40 DECOLAGENS COM VENTO TÃO FORTE QUE O MONITOR TINHA QUE SEGURAR O NARIZ DA ASA, E QUANDO ELE SOLTAVA, DEITAVA-SE E EU PASSAVA POR CIMA DELE. BONS TEMPOS, MAS SEM NOÇÃO DE JUÍZO ALGUM... | |
RISCOS E EFEITOS | EM CASO DE ERROS OS DANOS NORMALMENTE SÃO MENOS SEVEROS QUE ERROS QUE NA ASA. ARBORIZAGEM, ROLAR MATO ABAIXO, É DIFÍCIL CITAR UM PILOTO QUE NÃO TENHA PASSADO POR ISSO - OS QUE NÃO PASSARAM, IRÃO PASSAR. | UMA SIMPLES CORDINHA ATRAVESSANDO POR CIMA DA VELA PODE ENGRAVATA-LA E CAUSAR ATÉ GRAVES PROBLEMAS. HÁ O RISCO DE DEIXAR A VELA ULTRAPASSAR E CAUSAR UM FRONT STALL, ENQUANTO O CONTRÁRIO (ESTOL) NORMALMENTE NÃO GERA MAIORES PROBLEMAS. | A DECOLAGEM, QUANDO BEM EXECUTADA É RÁPIDA. RAMPAS DE MADEIRA AJUDAM INCLUSIVE A PERDOAR ERROS E FACILITAR ENTRAR EM VOO. | DEPENDE DE RAMPAS NATURAIS MAIS LIMPAS E COM PISO MAIS REGULAR, PARA NÃO ATRAPALHAR A CORRIDA DO PILOTO, E ALTERAR O ÂNGULO DE ATAQUE DURANTE A CORRIDA. CRASHS SÃO NORMALMENTE PIORES E NO MINIMO PROVOCAM ALGUM TIPO DE DANOS À ASA | |
ÂNGULO DO VENTO E VELOCIDADE DE VENTO | DECOLAR COM VENTO LATERAL É MAIS FÁCIL E SEGURO, POIS PODE-SE COLOCAR A VELA LIGEIRAMENTE NA TRANSVERSAL DO SENTIDO DE DECOLAGEM E MAIS APROADA PARA O VENTO - NA ASA, NEM PENSAR TAIS ATOS. | POR NÃO TER ESTRUTURA RÍGIDA, FECHAMENTOS PRÓXIMOS AO MORRO, LOGO APÓS A DECOLAGEM JÁ CAUSARAM VÁRIOS ACIDENTES, INCLUSIVE FATAIS. | DECOLAR COM VENTO DE CAUDA É POSSÍVEL, DESDE QUE SEJA VENTO BEM FRACO OU ZERO. DEVE-SE CORRER NO MINIMO ATÉ SUPERAR A VELOCIDADE DE ESTOL DA ASA. | ERROS DE DECOLAGEM NORMALMENTE CAUSAM DANOS TANTO NA ASA QUANTO NO PILOTO, POIS A VELOCIDADE ENVOLVIDA SEMPRE É MAIOR QUE NUM PARAPENTE. RETORNAR AO MORRO É O CASO MAIS COMUM, QUANDO A ASA NÃO ADQUIRIU VELOCIDADE DE SUSTENTAÇÃO, E TENDE A FAZER UMA CURVA LOGO NA SAÍDA. COM VENTO FORTE, AS ASAS FLEX PRECISAM DE AJUDA DE PESSOAS SEGURANDO OS CABOS LATERAIS - NA RÍGIDA, ISSO NÃO É NECESSÁRIO, POIS OS SPOILERS ATUAM AUTOMATICAMENTE BAIXANDO A ASA, QUANDO UM DOS LADOS SOBE. |